domingo, 15 de maio de 2011

Sobre qualquer coisa

E ela continuava fazendo tudo normalmente, como se nada estivesse acontecendo. As mensagens vinham de todo o lado, mas ela preferia não ver, preferia ignorar, preferia acreditar que algo a esperava.

Sim, algo a esperava. Mas não do jeito que ela queria.

Ela leu aquele texto, de uma pessoa que nem sabia quem era, e se sentiu no meio dele. Sentiu que ele fora escrito especialmente, na medida para ela. Mas estava tudo bem, como ela poderia se identificar??

E leu, releu, tantas vezes que já estava a ponto de recitar o texto inteiro. E percebeu que não estava tudo bem. E sua cabeça começou a rodar, e um turbilhão de pensamentos vieram à sua mente, fazendo com que ela gritasse, em frente ao espelho, para si mesma: "POR QUÊ???"

E tudo silenciou. Seus pensamentos desapareceram. Voltou à realidade. Continuou ignorando.

Sobre viajar


Eu sempre gostei de viajar, exceto para a praia, por razões que não serão descritas aqui. Pessoas dizem que é ruim, que não é a mesma cama, o mesmo travesseiro, os mesmos ares, as mesmas pessoas, o mesmo clima.Mas é por isso mesmo que se torna fantástico. Parece que você está vivendo uma outra vida.

Quando se é criança, viagens são legais, por fazerem parte de um sonho, por serem cenas de filmes antigos. O carro, com as janelas abertas. O pai dirigindo, a mãe ao lado, controlando a empolgação do motorista e a velocidade do carro. Os filhos no banco de trás.

A fiha na direita, ouvindo seu rock antigo no último volume (com fones, claro), a cabeça encostada na janela, o travaesseiro ineparável no colo, o cabelo bagunçado pelo vento.

O filho na esquerda, lendo um livro (como sempre), cochilando de vez em quando. Não leva travesseiros, não faz a menor diferença.

Chegam ao destino. Descarregam as malas, são recebidos pelos parentes. Tudo está normal, se não fosse o ambiente. Sua família está lá, isso é o que importa.

Mas tenho medo de viajar sozinha. Eu não seria apenas um anexo, eu estaria sozinha, enfrentando os medos, as estradas, os carros desgovernados. A música iria tocar e eu cantaria tão empolgada que esqueceria de dirigir. Logo, teria que ir no silêncio.

Chegando ao destino, tudo seria diferente. Tudo mesmo. Ninguém me receberia. Eu teria de tirar as malas do carro, abrir a casa, desejar uma boa estadia a mim mesma, fazer tudo sozinha. Por mim.

Mas apesar de todos esses medos, esses empecilhos, me parece ser a coisa mais certa a fazer.

Vou nascer de novo. Serão novos ares, novos travesseiros, novas pessoas, novas rotinas, novos idiomas, novas emissoras de TV, novas músicas, novo clima, tudo novo.

Será outra pessoa, no mesmo corpo.