Porém, um estouro a fez pular da cadeira, e acabou a luz. Morava sozinha e nas sextas os vizinhos sempre saíam, e tudo silenciou. Escancarou as janelas, pôs a cabeça pra fora, tentou ver o que ainda restara do pôr-do-sol.
O dia fora estranho, parecia que era invisível. Perdeu as contas de quantas pessoas esbarraram nela aquela tarde. Mas ela tinha a sensação de que o dia não acabaria assim, de que ela seria importante, pelo menos por 1 segundo.
Ficou lá, vendo o céu passar do azul para o laranja, do laranja para o vermelho, e, num piscar de olhos, do vermelho para o breu da noite.
Apesar de ser detalhista, nunca percebera essas mudanças tão vagarosamente. Se arrependeu de não ter filmado, fotografado, daria uma bela fotografia.
Observou o céu por um tempo, mas já estava com dores no pescoço, então resolveu cozinhar.
Acendeu uma vela. Tudo parecia ainda mais macabro com aquela luz trêmula fazendo sombras nas paredes. A adrenalina era ainda maior.
Terminou de cozinhar, jantar, e de repente uma lembrança lhe veio à cabeça. Era isso. Aquele dia. Aquele clima de outono. Nada poderia fazer mais sentido.
Faltava algo. Faltava aquela presença.
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