quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sobre o ano novo

Era 31 de dezembro. Ela nunca havia passado essa data acompanhada. A virada do ano era sempre melancólica, e ela ficava vendo os fogos de artifício de sua janela, tomando uma taça de chamapanhe. Seus pais sempre achavam uma besteira, diziam que era uma data comum. Eles odiavam aquele cheiro de pólvora que durava até a próxima manhã.

Então, naquele ano, ela estava acompanhada. A família dele poderia ser estranha, mas era o preço por ter um namorado tão fofo. Estavam esperando a hora chegar na beira do mar, sentados na areia. Havia apenas uma garrafa de champanhe sem álcool para comemorar.

Ela sempre se sentiu tão deprimida nesse dia que estar ali lhe fazia sentir estranha. Nem alegre nem triste, apenas estranha.

Ele a perguntou por que estava tão calada. Ela criou coragem para desabafar toda a história que estava por trás daquela data. Todas as lágrimas derramadas sobre a mesma taça de champanhe desde seus 13 anos. Todos os pensamentos e carências. Todas as frustrações que vinham quando ela lembrava de tanta coisa que devia ter feito e não fez. Toda aquela incompetência. Eram tantas coisas, mas tão simples. Uma semana bastaria, talvez menos.

Ela então se sentiu vazia. Aquele era seu segredo. Ela nunca revelou a ninguém que não gostava daquele dia, daquelas superstições com uvas e ondinhas. Ela nunca havia falado a ninguém que aquela era a data mais triste do ano para ela. O dia em que ela se sentia pequena, insignificante.

Ele então a abraçou forte e disse: a partir de agora, você não estará mais sozinha.

10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1!

Veio o novo ano e eles agora sentiam o amor mais profundo até então.

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