quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sobre os medos


Ela foi uma criança muito medrosa.
Não subia em árvores, poderia cair, poderia ter bichos, enfim. Preferia ficar embaixo da mesma, esquecendo-se que uma maçã (?) poderia cair em sua cabeça e isso doeria mais do que se caísse da árvore, talvez.

Não dormia sozinha. Sua cama era ao lado da de seus pais. Se sentia incomodada, mas aquele quarto era sombrio, seus bichos de pelúcia ficavam assustadores durante a noite.

E ela cresceu. E quando falava sobre esses medos para as amigas ela riam. E ela começou a inventar histórias. E elas riam de novo, mas de um jeito diferente.

Tinha medo de falar em público.
Tinha medo de beijar aquele garoto que ela sabia que gostava dela.
Tinha medo de que chamassem sua atenção, então ficava em silêncio.
Tinha medo que todos olhassem para ela ao mesmo tempo. E que se ela fosse corajosa o bastante pra expor sua opinião, eles debochassem dela.

Então ela se isolou. E pensou que tudo era culpa dos seus medos, talvez tão bobos e idiotas que não valessem a pena.
Tentou “colocar as asinhas de fora”.

Apresentou um trabalho na frente da classe, beijou o garoto, falou o que queria falar, sem medo de que a repreendessem. Fez questão de falar: “prestem atenção um pouquinho” e expôs suas opiniões. Eles riram. Ela falou: ferre-se.

No fim daquela semana ela se sentiu muito mais leve do que antes.

"Há alguma coisa aqui que me dá medo.
Quando eu descobrir o que me assusta, saberei também o que amo aqui..."
Clarice Lispector

2 comentários:

  1. É tão bom superar os próprios medos, você se sente livre, leve (: amei a frase da Clarice *-*

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  2. Medo é uma coisa chata, né. Eu me acho muito corajosa, mas vivo encontrando umas bloody maries evoluidas por ai.

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