sábado, 28 de agosto de 2010

Sobre os poemas que gosto de postar

Tiros - Juliana Holanda

Expectativas de beijos marcantes e suaves fazem da minha coluna um calafrio constante até te encontrar quem sabe um dia.
Quem dera alguém ouça meu grito no calabouço,
Veja minha garganta num poço inflamado,
Me tire o medo de tentar…
Quem dera alguém sugue a enfermidade da parede para que eu possa respirar em paz.
Quem dera a mentira escondida no canto se torne menor que verdade revelada
Quem dera ela possa permitir que as pessoas lidem bem com os sentimentos misturados no caldeirão de incompreensões da vida…
Quem dera as pessoas soubessem livremente se expressar…
Eu queria decorar diálogos de filme de arte pra te impressionar,
Mas é impossível que eu seja algo que não estou.
Só é possível que eu esteja falsa por ser a possibilidade de algo que eu gostaria de viver com todas as proibições.
Talvez eu seja o alvo.


Cântico negro
José Régio

“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Retirados do blog do RadioCaos

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