sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sobre as chances perdidas

Ela sempre acordava na mesma hora. Fazia sempre o mesmo caminho. Via sempre as mesmas pessoas.Ela conhecia as roupas que elas tinham, sabia até mesmo o nome. Sempre. Na mesma hora.

Ele apareceu naquele dia e começou a fazer parte de sua rotina. Tinha olhos azuis, quase sempre usava bermuda, a única exceção eram os dias realmente frios. Sempre de mochila. Às vezes tirava dela um livro e tentava ler. Nunca conseguia se concentrar. Talvez fosse o chacoalhar do ônibus ou as conversas. O ônibus era cheio àquela hora.

Ele descia um ponto antes dela. Certo dia, no congestionamento ela conseguiu observar seu caminho. Ele sempre entrava em uma casa. Ela queria muito saber o que tinha lá dentro. Mas nunca teve coragem de segui-lo.

Ela sempre o observava, desde então. Ele talvez nunca tenha sentido sua presença, mas ela sempre estava lá.

Naquele dia ela tomou coragem e sentou ao lado dele. Tinha passado horas pensando se devia fazer isso. Então tentou ser natural, mas não conteve a vontade de passar mais maquiagem do que de costume, usar outro perfume e uma roupa mais arrumadinha.

Almoçou mais cedo, não queria perder o abençoado ônibus. Quando chegou na fila, ele não estava lá. Ela pensou: não faz mal, eu vim antes mesmo. E o ônibus chegou. ela olhou discretamente para trás. Ele chegou. Acompanhado.

Talvez ela devesse ser mais corajosa.

Um comentário:

  1. Tenso. Eu também sempre reparo nas pessoas no ônibus. Nunca me apaixonei por ninguém, mas vi muitas relações irem e virem durante esse um ano e meio HAHA. Fiquei com dó dela. D:

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